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Hematopoético - Luiz Henrique Coutinho

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Título: Hematopoético
Autor: Luiz Henrique Coutinho Ferreira
Ilustrações: Ana Helena Alves Franco
Projeto Gráfico: Thiago Carvalho
Revisão Ortográfica: Luana Fidêncio
Prefácio: Sergio Bento
Apresentação: Alanna Fernandes
Diretora Criativa: Ana Júlia de Paula Oliveira
Fotografias: Luiz Henrique Coutinho Ferreira

Editora Subsolo
www.editorasubsolo.com.br
[email protected]
Uberlândia - Minas Gerais

1ª edição - 112 págs. - Uberlândia, Minas Gerais - 2019
ISBN 978-85-69188-54-4

1.Poesia 2.Literatura Brasileira II.Título

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Prefácio – Hematopoético - Sergio Bento - Prof. Letras UFU

Cabe ao sangue, nos animais vertebrados, o transporte de nutrientes e do oxigênio de e para cada um dos órgãos e tecidos do corpo vivo, fluxo ininterrupto de encontros, fusões e processos biológicos. Essa metáfora, que aparece amiúde na poesia brasileira recente – como nos importantes Sanguínea (2007), de Fabiano Calixto, e Seiva: veneno ou fruto (2016), de Júlia de Carvalho Hansen – move, de modo subterrâneo, todo esse Hematopoético, de Luiz Henrique Coutinho, primeiro livro de um poeta que não se furta a ousar justamente naquilo que é o sangue, a movência da própria poesia: a sua linguagem. Alternando epigramas, poemas visuais e alguns um pouco mais longos, garante ao leitor uma sequência de surpresas, jamais aceitando uma forma definitiva, mas fluindo entre poéticas possíveis.

Há, nessa riqueza de registros diversos, a percepção intuitiva de seu próprio tempo, em que a instabilidade do(s) discurso(s) não mais permite uma resposta única da arte, cada vez mais plural e indefinível. Ao mesmo tempo, porém, a variedade, como o sangue, mantém uma essência universal, imutável, inegociável: o trato com o significante, matéria poética, átomo linguístico em constante redefinição constitutiva. Não há, aqui, a crença inocente em um discurso próprio, mas a consciência de que língua é carne, substância coletiva, em troca ubiquamente posta. “Parte/ da arte/ parte/ de mim./ A outra/ parte/ de ti.”, versos cujos enjambements drásticos escancaram a fragmentação desse material que é latência, potência literária, mas sempre inacabada, pacto entre a primeira e a segunda pessoas que, juntas, compõem o sentido.

Assim, desconfia-se permanentemente do “eu”, da linguagem, da própria poesia: “Eu/ só/ vim/ te/ dizer/ oi./ Tenta/ ver/ sentido.”, ironia que põe o processo mesmo em xeque, aceitando o risco do jogo poético em tempos de seu total ocaso e descrédito, não sem prestar tributo a “mestres” que marcam sua trajetória. “Imundo/mundo/mudo”, resgate da famosa aporia de Augusto de Campos em “pós-tudo”, daquele que se vê entre a incapacidade de mudar o mundo e a rejeição à outra opção viável, a mudez. Poesia que insiste em falar após o colapso das utopias, vibrando entre a morte e o amor, em outro intertexto importante de Augusto, o célebre “Amortemor”, em que que a morte estrangula o amor, encapsulando-o no triângulo; aqui, um coração pálido, doente, dá forma a uma espécie de “frase-ouroboro”, de sintaxe móvel e leitura infinita: “A morte amortece o amor amortece a morte ...”, noção posta não apenas da indissociabilidade entre essas duas macrocategorias humanas, mas de como uma é tecido da outra: “amor tece o amor”; “amor tece a morte”.

O apreço pelos concretos ressoa em diversos outros momentos, como, obviamente, na exploração da visualidade, mas também na valorização da paronomásia, do trocadilho e da palavra-valise, recursos sempre arriscados, mas que Luiz Henrique domina, ora aprofundando a fagulha linguística em um adensamento de seu material (“com pactos/ compacto/ uma vida”), ora abraçando o gracejo inocente (“Desabado/ de sábado/ a sábado”).

É impossível não pensar nos concretos quando se vê a transição de idiomas ao longo do livro: poemas em inglês e espanhol, além de um título em alemão, parecem querer simular a globalização do contemporâneo, busca da “língua franca” que Benjamin identifica no ato de traduzir, em texto sempre relembrado por Haroldo de Campos. É como se a fluidez de um idioma a outro buscasse o pensamento primevo, pré-nomeação, instância do eu que se revela naquele milésimo de segundo antes do encaixotamento da ideia pela palavra: “transforme sua dor into a door”.

Toda essa movência de afetos e linguagens, porém, não confere a essa poesia um sentido de acatamento à insanidade do mundo contemporâneo. Há um grau de resistência, posto tanto na melancolia que emana de tal constatação (“Nem minha sombra/ me segue tanto/ quanto o fantasma/ que me assombra”) quanto num desejo de antagonismo (“contra tu/ contra tudo/ e contra todos”) a tanta transitoriedade e aceleração: no fundo, contrapor-se a esse presente é interromper o seu fluxo, mesmo que utopicamente, momento em que o sangue, enfim, coagula: “Sentado na rua/ espero sereno/ que o tempo não flua”.

Contatos:
[email protected]
@luizescreve

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