Secas Folhas - Mariana Anselmo
A poesia de Mariana Anselmo convoca a intimidade, como que chama o leitor para uma conversa particular, uma conversa que oscila entre afetuosa e abismal. Um colóquio delicado em dois sentidos: pode ser leve ou espinhoso. Como a vida. Incorporando o cotidiano vivido ao poema, aproximando o eu-lírico do sujeito-leitor por meio de impressões, recortes do cotidiano, sentimentos comuns e por isso mesmo gerais, a poeta opera aberturas de frestas em portas ou janelas que dão acesso a um universo particular que se, por um lado, é comunicação daquilo que se vê e do que se vive, por outro lado, é transfiguração. É a surpresa do olhar que atravessa uma lente e que só depois dessa travessia percebe que renunciou ao real como estrutura coincidente.
Secas Folhas propõe um pacto: a proximidade, seja com o abismo ou com o afeto, pode oferecer redenção. A morte que espreita no parapeito da janela e espanta o vizinho é a mesma que brilha nos pontos de poeira e luz e que faz parecer que nunca se acorda. Simplicidade ou um desespero quase elegante parecem dançar nas mãos da poeta como malabares e nesse sentido, Mariana Anselmo se filia a poetas que conseguem, pelo espanto e encanto do simples do familiar, alumbrar, palavra tão cara a Manuel Bandeira, poeta de quem se avizinha, assim como a portuguesa Adília Lopes.
O “infinito particular” de Secas Folhas é oblíquo, e nesse caráter enviesado reside sua força e graça. Luz e sombra misturam suas tintas em iguais proporções. É Monet e Dali e Picasso, e é a pintura do cróton no fundo negro pendurado numa parede negra. Um livro para ser vivido.
Micheliny Verunschk
Secas Folhas - Mariana Anselmo
Apresentação Micheliny Verunschk
Prefácio Leonardo Soares
Projeto gráfico Thiago Carvalho
Revisão ortográfica Cleusa Bernardes
Foto de capa Yuji Kodato
Assessoria Enzo Banzo
Editor Robisson Albuquerque
Editora Subsolo 2018
14cm x 21cm - 68 páginas - papel Pólen Bold 90g